Lendo o livro Madrugada de
Gentilezas, da escritora Nice Arruda, inspirei-me em escrever um pouco
sobre a relação com a minha cidade interiorana, Pentecoste.
Eu nasci em Fortaleza, em 1996. Na
capital, fiquei quase dois meses na incubadora por necessitar de maiores
cuidados. Logo depois, meus pais José Sales e Maria da Penha, levaram-me para Pentecoste.
Conta minha mãe que fui recebido
com surpresa e receio. Meus familiares nunca haviam visto até então um bebê tão
pequeno e com menos de 1.200kg. Meu pai
sempre se questionava: -Será que ele se cria?
E como cria do interior, fui
regado de deliciosas comidas com temperos naturais da roça, quintal para
brincar, e quando não, a rua que unia toda criançada da época. Uma felicidade
que para criança não tem tamanho.
Era pé na lama, espaço livre,
corre para todo lado e parece que os ponteiros do relógio marrom da cozinha da
minhamãe não giravam. Todo tempo era hora de brincar. O único medo era a mãe chamar
para casa e o filho não atender.
Minha mãe que ainda nem sonhava
em ter uma máquina de lavar roupas, eu e meu irmão brincávamos com os amigos
numa árvore que nos permitia pular no açude enquanto o banzeiro ia e voltava. Brinquedo
algum substituía aquela árvore e o açude que nos banhavam.
E falando em açude, em temporadas
festivas de carnaval e final de ano, o açude tornava-se atração principal da
cidade. Parentes vinham de Fortaleza para desfrutar a doçura das águas do Pereira
de Miranda e dançar as mais cobiçadas bandas de forró da região. Pentecoste
enchia-se de som, turistas e todos se aconchegavam na famosa praça do CSU. Muitas fotos foram registradas e apreciadas
sendo a praça recanto para novidades.
Numa época como essa (Eleições Políticas),
os carros de som propagavam a candidatura dos políticos e as casas decoravam-se
com as fotos dos respectivos candidatos. O melhor desse momento eram os santinhos
que os carros de som passavam jogando e a criançada fazia daquelas caras mentirosas,
coleção e disputavam em jogos de bila. Apesar das ilusões e sujeira, as
eleições proporcionavam alegria a criançada e agitava a distinta cidade do Peixe,
como assim é conhecida Pentecoste.
Pentecoste foi por muitos anos sinônimo de liberdade e sossego, ponto perfeito de encontros e reencontros e um peixe frito à beira d’água, gente sofrida e batalhadora de sorriso fácil. Os moradores escondem o descaso do poder público, mas revelam que em cada bairro da cidade existe um motivo para sonhar. E se eu não citar minha querida 15 de novembro, estarei sendo um traíra como os políticos que dessa terra exploram sua riqueza. Pentecoste me fez crescer brincando e parece até hoje fazer cada cidadão viver uma brincadeira em meio as adversidades.
Por: Davi Albuquerque